Tão primorosa a musicalidade dessa dupla baiana que ficou conhecida pelo hit Você Abusou. Mas Antonio Carlos & Jocafi não são donos apenas de um hit e não se prendem somente ao samba, isso mesmo, pois em sua discografia, além do samba, podemos encontrar rock, funk, psicodelia, afro-beat, etc… Portanto, queridos, escolhi três discos da dupla que pra mim são a “trilogia de ouro” deles, em sua fase mais criativa e experimental.
Mudei de Idéia – 1971
A estreia dos baianos é bastante “nervosa”, apesar de abrir o disco com o samba que viraria seu primeiro sucesso – Você Abusou – o repertório deslancha com uma pegada groove, guitarras fuzz, com muita psicodelia e ritmos africanos. Destaque para Quem Vem Lá – eu diria que é uma espécie funk-rock à La Chicago, onde a guitarra fuzz com wah-wah de Lanny Gordin e o naipe de metais dominam os arranjos – e Kabaluerê – instrumental pesada com cantos africanos e suingue bacana, meio afro-beat, faixa bem dançante. Em 2004 Marcelo D2 “sampleia” a base em sua música Qual é?, que estourou nas rádios.”
Algo interessante desse álbum é que ele foi lançado com duas versões e na mesma época, uma com a capa psicodélica, tipo um negativo de foto, e a outra capa mais convencional com a foto dos dois. Acredito que fizeram esta segunda capa – mais convencional – para aumentar as vendas, também há uma substituição de faixa, Dalena é substituída por Desacato que já havia sido lançada apenas em compacto e estourou antes do lançamento do disco. Gosto tanto desse álbum que fiz questão de ter as duas versões.
Cada Segundo – 1972
O disco de 1972, digamos que seja a continuidade do primeiro, porém, menos agressivo. Mas também bem rico em coposições e arranjos, acompanhados com músicos de alto quilate da música brasileira, nomes como Hélio Delmiro, Nelson Ângelo, Dino 7 cordas, Novelli, Pedro Santos (Sorongo) e outros. Com arranjos de Dom Salvador, Briamonte, Leonardo Bruno, Paulo Moura e Rildo Hora. Cada Segundo inicia com um sambinha maroto – Encabulada – com introdução e marcação de cuíca bem ao estilo Cartola. A segunda faixa já é mais dançante, com uma pegada mais afro, as demais vão alternando entre o samba ‘’marcado’’ e ritmos mais dançantes com pitadas de afrobeat, afoxé e funk. As faixas que mais me chamam atenção são Simbareré – um funk com percussão matadora e metais alucinantes. Shazam é uma mistura de funk\soul com afro-beat, na linha de Fela Kuti, com uma guitarra wha-wah chapada e uns efeitos que não sei dizer o que realmente são, devem ser de algum dos instrumentos criados por Pedro Sorongo. Ossain, como característica em seus discos (pelo menos nesta trilogia), é um canto religioso com batidas afro e vocalização feminina marcante, lembra muito a Kabaluerê, faixa do primeiro álbum.
Antônio Carlos & Jocafi – 1973
Esse é o meu segundo predileto. Como os outros dois anteriores, cheio de groove e suingue. Arranjos fantásticos de Leonardo Bruno e direção artística de Rildo Hora. Destaque para as faixas: Glorioso Santo Antônio – que tem uma pegada “Black\Soul” pesada, com baixo marcando na cara, gravão batendo no peito! Groove total!! Com um coro feminino que lembra a uma procissão religiosa. Tereza Guerreira, nessa eles exploram a religiosidade em uma forma dançante com um clima psicodélico, onde tem uma vocalização maravilhosa que parece meio que um loop. Xamêgo de Iná é a música mais rock n’ roll do repertório, com um riff de guitarra vigoroso – algo curioso é que essa não é a versão original, pois ela saiu no lado B do compacto de 1971 junto com Desacato, que citei a cima. Um disco essencial para quem curte Black music brazuca.
Meus amigos, portanto, aconselho a audição desses três maravilhosos álbuns e a aquisição também, pois são indispensáveis no acervo de qualquer amante de música brasileira de qualidade, apesar de não serem tão conhecidos, são bem melhores que muita coisa que a mídia nos mostra. Salve Antônio Carlos & Jocafi!!!
Quando tu me mostrou essa dupla, fiquei de cara por conta da passagem sampleada pelo D2. Odiava e ainda odeio a carreira solo dele. Ouvi o trecho em sua versão original foi bom pra exorcizar a versão do D2.
Ainda piro com o peso do Chamego de Iná, na versão do compacto. O grande mérito deles é justamente não se limitar ao samba.
Uma coisa que eu não sabia era dessa troca de faixas nas versões do primeiro disco. A capa original é bem melhor, como você bem disse, psicodélica. Deu um ar mais rock ao misto de ritmos do disco.
A introdução que eu precisava ter para começar a escutar a dupla, assim que encontrar por aí comprarei esses LPs!
Valeu, Dimas e Jan! A dupla é muito boa! Vale a pena ter no acervo. Abraços!