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Fabio Bill – A despedida inesperada de um grande amigo

Para explicar como me tornei tão amigo do Bill em tão pouco tempo, é necessário voltar pelo menos uns 15 anos na minha vida.

Meu pai assim como eu, era formado em Eletrônica. Desde pequeno eu gostava de acompanhar os serviços que meu pai fazia em casa, em suas horas de folga, ele era funcionário da Philips do Brasil, e nas horas de folga, consertava equipamentos para os clientes dele lá em casa, em bancadas improvisadas a depender do volume dos trabalhos. Eu sempre por perto, sempre gostei de eletrônica. A partir dos 13 anos, meu pai começou a ensinar eletrônica para mim, mas ainda não deixava eu exercer nada remunerado na área e nem consertar nada além de rádios de pilhas e sob a supervisão dele. Com aproximadamente 16 anos comecei a estudar eletrônica, colégio técnico. Com 20, eu era técnico formado.

Meu pai foi o maior amigo que eu tive, tínhamos interesses e gostos parecidos.   Conversávamos sobre eletrônica, aparelhos de som, música, éramos capazes de ficar horas e horas conversando sem perceber o tempo passar. Em 1999, saí de casa. Meu pai sofreu demais com a minha saída de casa. Até hoje não sei ao certo o que aconteceu com ele quando eu saí de casa. Há uma versão na família, de que meu pai confessou a uma tia que havia perdido o companheiro de todas as horas e que a vida não tinha mais graça. Em Junho de 2000, perdi meu pai, vítima de um enfarto fulminante. Perdi meu melhor amigo!

Da esquerda para a direita: Eu, aos 16 anos, meu pai e meu irmão. Foto tirada dentro da UST Lapa da Philips, onde estive diversas vezes com meu pai para acompanhar seu trabalho.

Cheguei a deixar a eletrônica de lado, tinha uma carteira muito grande de clientes já consolidada. Comecei a não querer mais nada com a eletrônica e me afastar. Os aparelhos de som vintage, deixei encostado. Alguns começaram a degradar. Eu não estava nem aí pra mais nada. Meus discos de vinil, comecei a passar tudo para MP3, não iria me desfazer porque muitos deles pertenceram a meu pai. Mas estava guardando a todos em São Paulo, na casa da minha mãe.

Usava um micro system Sony e um toca discos direct drive da CCE modelo DD-7000 apenas para passar os lp’s para MP3, sem nenhuma preocupação com qualidade.

Aí vieram as comunidades do Orkut, que me inscrevi por gostar muito de som, e para ver fotos de aparelhos antigos. Acreditem, tenho uma coleção virtual de toca-discos, onde coleciono apenas as fotos. Mas um dia colecionarei os aparelhos, assim que tiver espaço.

Voltando ao assunto, tinha apenas a pretensão de coletar algumas fotos. Comecei a ver alguns debates sobre eletrônica, e sobre tecnologia dos aparelhos, quando comecei a observar o nível da conversa. Lembravam as conversas que eu tinha com meu pai. Isso fez reacender aquela luzinha da eletrônica que eu mantinha apagada, mas não havia deixar de gostar.

Uma dessas pessoas, era apenas 2 anos mais novo do que eu, gostava das mesmas coisas, e tinha passado por um trauma parecido com o meu. Enquanto eu tinha perdido meu pai, ele havia perdido a mãe. Começar uma amizade daí, foi fácil demais.

Começavamos a conversar no MSN cerca de 09 da noite e chegávamos até 02, 02:30 sem perceber o tempo passar. Ele se dizia notívago, e gostava de conversar nas madrugadas. Eu não sou notívago, então isso ajudou a gente a não conversar mais do que conversávamos!

Mesmo assim, o auxiliei na restauração de um TV Philips, tipo semelhante a uns modelos que sempre chegavam em casa para meu pai consertar, e com o tempo, eu também consertava.

Eu havia finalmente conseguido alguém para conversar de eletrônica exatamente da forma como eu fazia com meu pai. Comecei aos poucos a montar meu aparelho de som, retomei a coleção de LP’s, voltei a consertar equipamentos e fazer restaurações. Sempre conversava com Bill sobre os serviços que eu fazia, e eventualmente ele conversava comigo em algum serviço, como por exemplo na Radiola, que indiquei a home-page da Voice of Music para compra de peças do toca-discos, e o restauro da TV Philips que dei dicas para ele consertar.

No dia 03 de Novembro de 2010, tive a honra e o privilégio de ir à casa do Bill. Com sua simplicidade e generosidade, nem parecia que era a primeira vez que eu estava lá. Quando eu menos esperava, já estava sentado na frente da radiola escolhendo qual música iria ouvir.

Bill e eu, no dia 03 de Novembro de 2010, na casa do Bill.

Bill me levou até a sala vintage, que estava terminando de ser montada, mostrou sua bancada, onde executava seus serviços em outro cômodo da casa, mostrou os serviços futuros, e os serviços especiais, que só faria quando tivesse tempo para executar com calma. Tudo isso, sempre acompanhado de uma garrafa de coca zero, que levava pela casa conforme íamos andando.

Minha admiração por ele só aumentou. A restauração de meu Garrard AT-6 só foi bem sucedida graças à polia que ele me forneceu de uma de suas sucatas.

Perdi muito mais do que um amigo. Perdi a pessoa que eu conversava sobre eletrônica, que eu debatia sobre algum serviço que estava fazendo, ou que simplesmente jogava conversa fora de noite.

Com tudo isso, foi fácil demais eu considerar o Bill um de meus melhores amigos. Acontece que mais uma vez, perdi um melhor amigo!

Chorei!! Chorei como poucos me fizeram chorar. Senti como se a vida estivesse querendo me punir de algo. Outra vez tirou a vida de uma pessoa que conversava sobre eletrônica comigo, trocava idéia sobre serviços e gostava de aparelhos antigos e mesmo estilo musical do que eu.

Meu amigo, restaure os vintages de onde você estiver que um dia irei ver mais uma vez seu serviço para podermos conversar sobre eles!

Muito obrigado por todos os momentos bons e você será sempre lembrado por todos os amigos que você cultivou!

Dica:

Blog de restauros feitos por Fabio Bill http://restaurasom.blogspot.com.br/

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5 Respostas para “Fabio Bill – A despedida inesperada de um grande amigo

  1. Puts, o mais incrivel desse cara era receber um estranho na casa dele como se fosse conhecido de anos… Fui apenas 4 vezes em sua casa, mas posso afirmar que nunca fui tão bem recebido em toda minha vida… Deus, o receba aí no céu asssim como ele nos recebia em sua casa…

  2. colega fiquei muito emocionado com sua historia as vezes deixamos quem amamos de lado por diversos motivos deixei meu pai de lado e me arrependo muito não por maldade sinto muita falta do velho e querido chicao e dos domingos regado com caipirinha e musica um belo reciever kenwood kr2600 e um toca disco gradiente garrard tem aperto no peito que nem o tempo tira boa sorte fique com deus

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